sábado, 31 de dezembro de 2011

'Num aperto, não se pode contar com ele'

'Depois de um primeiro mandato que se distinguiu pela patriótica ambição de ganhar um segundo, no fim Cavaco lá ganhou. Entretanto, para não perder um voto, evitou prevenir o país do estado em que de facto estava e da catástrofe que lhe preparavam. Continua como sempre foi: um discípulo menor de Marcelo Caetano, com uma vaguíssima inclinação para a social-democracia. Num aperto, não se pode contar com ele.'

VPV na 'opinião' de hoje, no Público. O próprio título, 'Heróis do nosso tempo' (sim, lemos Lérmontov),  neste caso é sombrio (no outro, sempre tínhamos o 'brio romântico); todas estas figuras são cinzentas, vazias e com uma desapaixonada e medíocre ideia de poder.  Não temos mesmo 'por quem substituir as ilusões'.

Bom Ano, e boa sorte.

domingo, 18 de dezembro de 2011

E vai emigrar?

(...) 'reconhecer um erro mais não é do que assumir a condição humana na sua plenitude e ter noção de que, por muito que tentemos, a falibilidade andará sempre de mãos dadas com o acerto', Duarte Gomes, árbitro de futebol.

Leituras de FdS


D&D: 'No es de extrañar que la pérdida de fe en la democracia haya sido mayor en los países que han sufrido las recesiones económicas más graves.' Paul Krugman, aqui.



















Btw, se não leu, não deixe escapar este curioso exercício Fergusoniano que o 'Expresso' levou a sério (publicado na edição de 10 de Dezembro).  Estou disponível para desenvolver o guião do Cenário 4, de Frances Coppola (!).





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"18 letras que caribam o relato de qualidade" e que...

...no Brasil é naturalmente muito apreciado.

Dando uma no cravo e outra na ferradura dão-se pelo menos duas

Há várias maneiras de olhar para o rompimento da Ruptura/FER com o Bloco de Esquerda. Poderemos sempre dizer – talvez injustamente – que nas tempestades os ratinhos são sempre os primeiro a abandonar o barco. Mas entretanto soube, pela crónica desta manhã do Fernando Alves na TSF, que afinal os ratos são altruístas - sendo que assim estaria a ser injusto para os pobres ratos. Difícil escolha.

Regressemos então ao que nos parece definitavamente consolidado no pensamento nacional – dar uma no cravo e outra na ferradura. A experiência e aproximadamente 27 segundos de reflexão continuada dizem-me que o exagero das qualidades humanas acaba muitas vezes por redundar em defeitos. Dito de outra forma: os defeitos humanos são muitas vezes as qualidades levadas ao exagero.

Da coragem (uma qualidade) à burrice (um defeito) pode ir um passinho de hamster. Pode ser que, rompendo com o BE, a Ruptura/FER não esteja senão afinal a ser corajosa, assumindo que já não tem nada que ver com o partido e indo à sua vida, formando um novo partindo, arriscando ir a votos; mas pode ser também que depois, indo a votos, se confronte não só com o seu presente mas também com aquilo que sempre foi: algo de profundamente irrelevante.

Prognósticos...enfim...já sabem.

Uma homenagem a Salazar


Jaz morto e apodrece o palacete, em Cabanas de Viriato, Viseu, que um dia foi do cônsul Aristides Sousa Mendes, o diplomata que em 1940, em Bordéus, desobedecendo às ordens de Salazar, salvou milhares de pessoas (30 mil, parece) da fúria nazi, concedendo-lhes vistos para fugirem para Portugal. Por motivos vários, começando por desentendimentos familiares, não há maneira de se conseguir recuperar a Casa do Passal, preservando-se para os vivos a memória do diplomata, do que fez, de como viveu e das circunstâncias que o fizeram herói
Casa do Passal
Ora acontece que ali ao lado, a meia dúzia de quilómetros, em Santa Comba Dão, resplandece o casinhoto onde em 1889 nasceu o ditador que condenou Sousa Mendes à miséria – a miséria que nos é recordada todos os dias na imagem da imparável degradação da casa do cônsul. Sob a forma de um "Centro de Estudos do Estado Novo", preserva-se a memória – para análise ou devoção – daquele que não hesitou em punir a desobediência em vez de premiar o humanismo.

Casa onde Salazar nasceu
Deixa-se cair aos bocados a herança daquele que escolheu salvar em vez de condenar. Para além das vidas de Salazar e Sousa Mendes, muito para além, continuamos assim a dar seguimento à vingança do ditador sobre o cônsul, preservando a sua casa de Santa Comba e deixando morrer a do diplomata em Cabanas de Viriato. Morto o ditador, tratamos nós da coisa. Estamos em Portugal. O respeitinho vence o respeito. Este caso, podendo não dizer nada, quer se calhar dizer tudo.  

domingo, 11 de dezembro de 2011

STATEMENT BY THE EURO AREA HEADS OF STATE OR GOVERNMENT



Por estes dias, tenho andado vagamente angustiada à procura de 'apoio' a uma secreta convicção: David Cameron fez o que tinha que ser feito.

Lia os habituais, seguia link's à procura de mais e mais, e nada, a persistente ideia que Cameron entrou naquela do 'estupidamente sós' estava por todo o lado. Encontrei um conforto relativo neste artigo de Timothy Garton Ash, 'David Cameron's 'no' is bad for Britain and for Europe' e pouco mais.

Mas 'statement by the euro' não me convence, e quem diz a mim (irrelevante), diz a tantos outros; e foi, justamente, através de outros que encontrei, finalmente, o que tanto procurava, por estes dias.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A lição de Sócrates (no bom e no mau)

Sistematizando ideias sobre a reentrada de José Sócrates no prime-time noticioso (se é que alguma vez saiu).

1. Vistas as primeiras declarações, na universidade parisiense, e ouvidas as justificações (para gente "de boa-fé"), retenho uma dúvida. No início, Sócrates dizia que era de criança a ideia de pagar dívidas - porque a teoria económica que tinha aprendido falava de gerir dívida e não de a pagar. Depois, na entrevista à RTP, diz que "evidentemente" falava de a pagar "na íntegra e imediatamente" - isso sim, uma ideia de criança. Ora bem, não entendo então a quem respondia Sócrates. Porque não ouvi ninguém, mesmo ninguém em tanta gente, defender a necessidade de país algum pagar total e imediatamente a sua dívida. Portanto, das duas uma: ou há por aí um louco a pregar teses loucas, ou a explicação de Sócrates é mesmo uma correcção ao que disse antes. Se o é, de todo o modo, ainda bem que a faz - porque a primeira versão era tonta (sobretudo politicamente tão inábil que faz aflição).

2. Dito isto, é claro que o período de nojo para Sócrates poder falar sem abrir polémica em Portugal está longe de ter terminado. Haverá o tempo em que o país (no sentido maioritário do termo) o voltará a ouvir. E a valorizar o que ele dirá de verdadeiro e compreensível. Não hoje, não no tema endividamento público.

3. Exemplo perfeito do que quero dizer quando afirmo que o país não está preparado para o regresso é o que Sócrates hoje disse, na RTP, sobre o facto de outros (PSD/CDS) hoje reconhecerem que o problema da dívida é também europeu - e não só nacional. Tem razão sobretudo no caso do PSD, que fingiu durante meses (por razões evidentes) que o problema era Portugal e a má gestão de Sócrates.

4. É claro que nisto, bem prega Frei Tomás. Se o PSD (por estar no Governo) já assume a crise europeia como sistémica, ainda não ouvi Sócrates dizer que levou longe demais a estratégia de endividamento nacional. Ouvi, isso sim, o mesmo Sócrates na dita palestra a dizer num parêntesis que a dívida tem que ser gerida de forma a os mercados acreditarem que ela é pagável. Mas não a admitir que Portugal, sob sua gestão (embora não por sua culpa exclusiva, digo eu) passou esse limite.

5. Dou de trunfo outro ponto a Sócrates: a revisão do Tratado que aí vier pode (tudo bem) transferir soberania orçamental para Bruxelas. Mas então que falam o favor de fazer eleger directamente pelos europeus o Presidente da Comissão, sff. Nisto, se é verdade que a sra Merkel o ouve, que o faça também desta vez.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Vai ou racha


No que toca à reforma do Poder Local espero que o Governo não fique a pensar que está a fazer tudo bem só porque um ministro (Miguel Relvas) foi alvo de uma enorme vaia num congresso de presidentes de junta de freguesia.

Sem ironia digo que isso só pode ser considerado bom sinal. Mas melhor mesmo será que o Governo consiga um dia igual vaia (ou maior ainda) de um qualquer congresso dos milhares de boys que os partidos espalharam por centenas de empresas municipais por esse país fora. Quanto melhor a reforma for mais alto todos os poderes locais berrarão. Nesta matéria sou um verdadeiro António Ribeiro Ferreira: é partir-lhes a espinha!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Revisited


'A maldição da humanidade reside no facto de a nossa existência neste mundo não tolerar uma hierarquia fixa e definida, visto que tudo flui e reflui em movimento permanente e que cada um de nós tem de ser percebido e avaliado pelos demais, e que a percepção que têm de nós os menos esclarecidos, os mais limitados e burros é-nos tão importante quanto a dos inteligentes, esclarecidos e subtis. Porque o homem, no fundo do seu ser, depende da imagem impressa na alma de outro homem, mesmo que a alma em questão seja a de um cretino. Por isso, insurjo-me peremptoriamente contra os meus companheiros de ofício, que perante a opinião dos burros, adoptam uma postura aristocrática e proclamam em alto e bom som odi profanum vulgus. Isso não passa de um mero e primário expediente de pacotilha para se furtarem à realidade, uma miserável escapadela para uma postiça altivez! Pelo contrário, quanto mais burra e estreita for essa opinião, mais facilmente nos deixará as orelhas quentes, tal como sentimos mais desconforto num sapato apertado do que num que foi feito à medida.'

(Ferdydurke, Witold Gombrowicz)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Bastões, democracia e "fascismo"

Manuel Lino/TVI 24
Há quem veja um bastão da polícia e grite “Fascismo!”. Os cãezinhos do senhor Pavlov também desatavam a salivar assim que ouviam uma campaínha – foram treinados para isso.

É mais fácil assim, rotular tudo de acordo com imagens pré-concebidas, etiquetas pronto-a-colar, insultos prontos a disparar. Não temos de pensar, verdadeiramente: surge uma imagem e imediatamente dizemos qualquer coisa. Os olhos estão directamente ligados à voz e pelo cérebro já não passa nada. Ter dúvidas? Ná! Às vezes o que parece não é? Nunca!

(Sendo, que muitas vezes, o double standard impera: se um bastão policial arrear num jovem “indignado” que quer derrubar uma barreira, a esquerda bem pensante berra “fascismo!”; mas se um bastão policial arrear num jovem hooligan de uma qualquer claque futebolística que quer derrubar uma barreira, então a mesma esquerda bem pensante aplaude!)

O que se passou ontem em frente à Assembleia, que segui pela televisões, resume-se em poucas palavras: foi colocada nesta manifestação – como em todas que ali ocorrem – uma vedação que impede o acesso dos manifestantes às escadarias. Depois houve manifestantes que tentaram mandar essa vedação abaixo e a polícia impediu. E houve pancadaria e empurrões e o costume nestas ocasiões. Se os manifestantes – aparentemente desenquadrados dos sindicatos – não tivessem tentado derrubar a vedação nada se teria passado.

Depois parece terem existido cenas de violência descontrolada pela polícia, nos arredores da AR, segundo alguns testemunhos – e portanto punam-se os responsáveis. (Já agora digo que também tenho testemunho de se juntaram aos “indignados” profissionais estrangeiros que andam pelo mundo a semear o caos – e agora vieram até cá fazer uma perninha.)

O que me parece recomendável é, portanto, que não se gaste a palavra “fascismo” com tudo e um par de botas. Digamos que será talvez ofensivo para quem sofreu durante 48 anos aquilo alguns chamam fascismo (e outros não), quem sofreu isso todos os dias, quotidianamente, com perseguições, humilhações, murros, pontapés e outras torturas bem mais dolorosas (cujas consequências alguns ainda hoje sofrem), digamos, dizia, que falar em fascismo a propósito do que se passou ontem, talvez possa ser, enfim, excessivo - para não dizer mesmo um tanto insultuoso.

Talvez, digo eu.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A greve geral e o Orçamento

Há dias pediam-me um texto sobre que consequências política teria esta greve para o Governo. Eu respondi - e hoje confirmei: nenhumas.
Duvido que Passos Coelho tenha, alguma vez, pensado que esta greve não chegasse como chegou. Ela era tão inevitável como o caminho que o Governo seguiu. De resto, acredito que greves como a de hoje ajudam o Governo a manter uma saudável tensão social. Saudável, sim, porque enquanto o protesto se organiza desta forma são menores as possibilidades de reais conflitos sociais.
Mas há um discurso que vejo aparecer nesta greve que mais me faz acreditar que, por agora, o Governo não tem que temer a rua. São os muitos sindicalistas que aparecem a criticar a Europa e a culpá-la pela situação vigente. A razoabilidade com que - grosso modo - todos encararam esta greve, PCP e CGTP incluídos, faz-me pensar que Passos Coelho tem ainda tempo para fazer o que entende necessário. E que ainda está de pé aquele acordo informal que lhe permitiu chegar a S.Bento.
Por razões naturais, quem mais parece tremer com a rua é o PS, que (e bem) resolveu não a apoiar oficialmente. Mas olhando para o facebook, a pressão sobre Seguro aumentou com esta nova abstenção. O que deixa o líder socialista na (má posição) de precisar como pão para a boca de uma cedência no Orçamento.
P.S. A resposta do primeiro-ministro ao pedido de protesto de Mário Soares, ontem, foi provavelmente a sua melhor dos últimos cinco meses.

Eu e a greve geral

1. Pertenço ao grupo dos que encontram virtualidades na vinda da troika para Portugal. Acredito que só assim se conseguirá cortar a sério na despesa pública; e acredito nas virtualidades da monitorização permanente da aplicação do programa de ajustamento. Esperando eu – embora, é certo, sem grande convicção – que estas marcas conjunturais a que o país está agora obrigado se tornem, depois, permanentes. 

2. Há quem diga que a necessidade de agora estarmos a ser governados por “estrangeiros” - argumento que, temos de reconhecê-lo, tem o seu quê de xenófobo – representa uma forte 'moção de censura' sobre a nossa classe política. Pois, talvez. Para mim representa algo mais: uma 'moção de censura' a um povo inteiro (onde me incluo, claro) que, repetidas vezes, premiou em eleições quem manifestamente lhe estava a mentir (negando aumentos impostos ou prometendo tudo e um par de botas - pontes, autoestradas, aeroportos, TGVs e quejandos, promessa que, para mal dos nossos pecados, muitas vezes até foram concretizadas, como é óbvio com o dinheiro que não existia e endividando o país por gerações e gerações). 

3. Concordo no essencial com os termos do programa de ajustamento (embora admitindo que os prazos de pagamento do empréstimo possam ser demasiado apertados) e não me parece que o leque de opções ao alcance do Governo para o aplicar seja muito alargado. 

4. Lamento – no Governo e na maioria que o suporta – uma coisa: que o seu empenho em cortar na despesa pública se acobarde totalmente quando enfrenta o 'lobbie' do poder local. E – no Parlamento – que, face ao inevitável recuo do Estado Providência, não se aprovem medidas que obriguem as empresas a reforçar a sua responsabilidade social perante os seus próprios funcionários (creches, assistência médica mínima, etc.). 

5. Não ignoro que cada um julga o filme que vê a partir da cadeira em que está sentado. Na minha decisão face à greve geral admito poder estar condicionado pelo facto de não integrar o grupo dos que serão mais atingidos (funcionários públicos e pensionistas). Mas é verdadeiro o argumento de que sobre os trabalhadores do sector privado paira a núvem, muito negra, do desemprego – algo que não assusta grande parte dos funcionários públicos. Testemunhei na empresa onde trabalho o maior despedimento colectivo de que há memória em grupos de comunicação social em Portugal. Não me lembro de nos trabalhadores do Estado ter acontecido alguma vez algo semelhante. 

6. Compreendo esta greve geral e acho muito bem que as estruturas representativas dos trabalhadores sinalizem permanentemente o poder político (ainda para mais maioritário) de que não pode fazer tudo o que lhe apetece sem ter resposta. 

7. Sei que para o país voltar a voltar a crescer é preciso muito mais do que, simplesmente, limitar o défice e a dívida. É preciso um movimento geral da economia portuguesa e de todos os seus protagonistas – pequenos, médios, grandes, privados, estatais, políticos, etc - que torne possível a cada consumidor português substituir, com ganhos de de preço e qualidade, o consumo de produtos importados pelo consumo de bens nacionais (enfim, a tal questão da “produção de bens transacionáveis”). 

8. Parece-me que neste momento o debate está polarizado – e, como é costume, tristemente panfletário – entre os que acham que as soluções do Governo vão matar o doente com a cura e os que acham que depois da tempestade virá seguramente a bonança.

9. Por mim, pessoalmente, não sei. Não sei se estas soluções vão conduzir (ou não) o país ao tal ciclo infernal grego (austeridade gera recessão que gera mais austeridade que gera mais recessão e por aí adiante) ou, pelo contrário, o colocarão em condições de voltar a crescer. 

10. Em boa verdade, ninguém pode saber – e é aqui que bate o ponto. É impossível julgar um Governo com seis meses de função. É impossível garantir, para além de qualquer dúvida, que os “remédios” que está a aplicar não vão resultar. Falta o “ver para crer” - porque ainda não se viu nada. E é por tudo isto que não vou aderir à greve geral – porque não vejo a greve como uma forma de luta preventiva face a uma realidade que se antecipa.

11. Mas atenção! Dentro de um ano temos mesmo de começar a ver, como o Governo tem prometido, o “princípio do fim” da crise; dentro de um ano tem de se tornar claro, inquestionavelmente claro, que os subsídios de férias e de Natal da função pública e dos pensionistas serão repostos em 2014 (num país com um rendimento médio per capita de 700 euros/mês esta solução não se poderá tornar estrutural). Dentro de um ano, isso sim, veremos. E se em 2014 esses subsídios não forem repostos, então haverá razões para muito mais do que uma greve geral – haverá razões para pensar que o Governo deve ser demitido. 

12. Dentro de um ano darei razão a quem hoje já diz “vamos morrer da cura”. Ou então não. Depende mais da realidade do que de mim próprio.

Levanta-te e anda

Em dia de greve geral é altura de ressuscitar esta coisa. Soyez les bienvenu, como se dizia na Roma antiga.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Nenhuma delas devidamente fundamentada

Notas colocadas no Facebook de há uns tempos para cá.

1. Cá para mim é um escândalo. Uma coisa sem nome. O PSD - que NÃO É DE ESQUERDA - resolveu apresentar um programa que NÃO É DE ESQUERDA. Isto só neste país. 9 Maio 2011

2. Síntese de uma primeira visita à Feira do Livro: do ponto de vista do que verdadeiramente interessa, importa analisar com atenção as bancas da Prefácio e da Imprensa de Ciências Sociais (ala à direita de quem sobe). 6 Maio 2011

3. Os opinadores afectos ao PCP estão muito escandalizados com o facto de Bin Laden ter sido morto pelos EUA. Ou seja, com o facto de um exército ter eliminado o líder de outro exército. Adoraria ter visto a mesma reacção quando o Exército de José Eduardo dos Santos matou Jonas Savimbi. Mas não vi. Nem eu nem ninguém. Pelo contrário: rejubilaram! 3 Maio 2011

4. Não me venham com pacifismos, plize. O que se passou com Obama foi um acto de guerra. Operacionais de um exército mataram o líder de outro exército. Já aconteceu em muitas guerras e há-de voltar a acontecer noutras. 2 Maio 2011

5. Vasco Lourenço diz que Otelo Saraiva de Carvalho se tornou um "simbolo do descrédito". Eu pensava que bastava para isso ter estado - depois do 25 de Abril! - preso cinco anos condenado por terrorismo. 25 Abril 2011


6. Terrível ironia do destino: em 1974 foram sobretudo militares do Exército a fazer cair a ditadura. 37 anos passados são militares do Exército os primeiros agentes do Estado a sentir no bolso que o Estado faliu. 24 Abril 2011

7. A diferença entre o défice de 2010 anunciado em Fevereiro deste ano e o défice de 2010 anunciado ontem é de 3,74 mil milhões de euros. Dava (e sobrava) para acrescentar sete submarinos novinhos aos indispensáveis dois que já cá temos. 24 Abril 2011


8. Eu bem tento mas está difícil (acreditar que o défice se 2011 será 4,6). Podem-me garantir que as "novas" despesas que fizeram engordar o défice de 2010 não serão repetidas este ano. Garantem-me tudo. Mas custa a acreditar: em Fevereiro deste ano o primeiro-ministro e o ministro das Finanças também nos garantiam que o défice de 2010 seria de 6,9. E já vai em 9,1. [Adenda: para surpresa de toda a gente, Sócrates anunciou entretanto, quando fez a comunicação sobre o acordo com a 'troika', que afinal o défice de 2011 vai ser de 5,9 e não 4,6]. 24 Abril 2011


9. É claro que o PIG (Povo Idiota e Grunho) que deu dois governos a Sócrates e de que Manuela Moura Guedes se queixa é exactamente o mesmo que lhe dava a ela audiências astronómicas na TVI. É isso que a senhora não entende. Ela, como o seu "jornalismo" (aspas, muitas aspas) alimentou a "criatura". Na verdade são verso e reverso da mesma medalha. Estão um para o outro. 23 Abril 2011

10. O PSD parece apostado em cumprir todos os clichets da idiotice eleitoral. Exemplo 1: contratar "marqueteiros" brasileiros desfasados da realidade nacional; Exemplo 2: expor Passos como homem de família, trazendo a mulher para o espaço público, sendo que a senhora parece tudo menos à vontade e desejosa disso. Vão-se arrepender. Mas então já será tarde de mais. 23 Abril 2011

11. Vá, admitamos: de um ponto de vista estrito de inteligência eleitoral táctica ninguém pode considerar o PS como um partido burro. Portanto, sendo assim, pergunto: que sentido faria colocar nas listas de candidatos a deputados pelo PS um homem politicamente leproso, como o ministro Teixeira dos Santos? 22 Abril 2011

[Para já é tudo. Depois se verá]









quinta-feira, 17 de março de 2011

Disse eu e disse muito bem

Hoje, na minha página no Facebook.

1. Pensais vós, ó gentes, que o engº Sócrates tenderá a desaparecer politicamente, depois das próximas eleições, se perder? Pois estais muito enganadas, ó gentes. O engº Sócrates vai andar entre nós até ao resto dos nossos dias. Rejubilai!

2. O papel importante do Presidente da República é DEPOIS das eleições. Agora só terá de lidar com factos consumados: todos querem eleições. DEPOIS, se Sócrates perder, tentará tudo para que haja um bloco central (talvez com o CDS). Com uma nova liderança, o PS hesitará. Mas o coro pró-aliança com o PSD tenderá a engrossar. É isso ou ser oposição. Partilhar o "pote" ou não partilhar; ter emprego ou não. Os "boys" são o que são.

3.Vai começar (ou já começou) a semana mais difícil da vida política de Pedro Passos Coelho. Ou aguenta ou morre. Para já parece que aguenta.

domingo, 13 de março de 2011

No conforto do seu posto de observação na Marmeleira, Pacheco Pereira usou, para comentar a manifestação dos "à rasca" - a maior manifestação não sindical e não partidária vista em Portugal desde o 25 de Abril -, o seu truque habitual sempre que a realidade não lhe convém: não comenta os factos; comenta o jornalismo sobre os factos. JPP deveria reponderar prioridades: ver menos TV. E trabalhar mais. Aguardo há anos pelo IV volume da biografia de Álvaro Cunhal. Até o seu amigo José Manuel Fernandes já parece ter percebido que o seu prazo de validade como comentador caducou.

Passe de muleta

É tão lindo vermos a inteligência em funcionamento. A sério, sem ironia: gosto mesmo muito (quase me comove). Estava o dr. Passos todo contente com o seu habitual número do "agarrem-me senão mato-o" (ao engº Sócrates), agora com o PEC 4, e veio o dr. Portas e zuca! obrigou o dr. Passos a ter mesmo de o votar na AR, quer queira quer não queira (e notoriamente não queria). Temos eleições em Junho. Boa noite e boa sorte.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A posse - duas notas

1. O que Cavaco Silva ontem fez no seu discurso de tomada de posse foi pormenorizar o seu programa de Governo. Portanto, é no mínimo precipitada a imensa alegria dos sociais-democratas com o discurso do PR. Na verdade ele quer o que sempre quis: governar. E seja lá quem for o primeiro-ministro, Sócrates ou Passos. Se quiser ir a algum lado o PSD tem de salvaguardar como muito preciosa a sua autonomia estratégica face ao PR.Não é o mais importante - mas é importante.

2. O ciclo mudou. Cavaco Silva, liberto dos "ditames da reeleição" (expressão de Jaime Gama no seu discurso), assume a sua verdadeira intenção: dar ao Governo as suas "linhas de orientação", ou, numa palavra, governar. Tendo portanto a estar de acordo com a ideia do mandato único para o PR. Convém alguma constância na interpretação presidencial dos seus poderes e não uma interpretação de geometria variável, conforme as suas ambições eleitorais.

PS. Duas notinhas publicadas também aqui.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O verdadeiro "discurso do Rei"



Nesta hora grave, talvez a mais decisiva da História, envio a todas as famílias dos meus povos, tanto aqui como no estrangeiro, esta mensagem, dita com a mesma profundidade de sentimentos para cada um de vocês como se eu fosse capaz de atravessar a soleira da vossa porta e falar convosco pessoalmente.

Pela segunda vez na vida da maioria de nós, estamos em guerra.

Repetidamente tentámos encontrar uma forma pacífica para resolver as diferenças entre nós e aqueles que agora são nossos inimigos, mas foi em vão.

Fomos forçados a um conflito, para o qual somos chamados com nossos aliados, para enfrentar o desafio de um princípio que, se vencesse, seria fatal para qualquer ordem civilizada do mundo.

É um princípio que permite a um Estado, na sua busca egoísta de Poder, ignorar os seus tratados e compromissos solenes, que sanciona o uso da força ou ameaça de força contra a soberania e a independência de outros Estados.

Tal princípio, despojado de todo o disfarce, é seguramente a mera doutrina primitiva de que a Força é o Direito, e se esse princípio fosse estabelecido através do mundo a liberdade do nosso país e de toda a Commonwealht estariam em perigo.

Mas, muito mais do que isso, os povos do mundo seriam mantidas cativos pelo medo e seriam abolidas todas as esperanças de paz e de segurança, de justiça e liberdade, entre as nações.

Esta é a questão principal que nos confronta. Por tudo o que defendemos, e da ordem e da paz mundiais, é impensável que recusemos enfrentar este desafio.

É para este elevado propósito que agora chamo o meu povo em casa e os meus povos através dos mares, que deles farão a sua causa própria.

Peço-lhes para ficarem calmos e firmes e unidos neste momento de provação.

A tarefa será difícil. Pode haver dias negros pela frente, a guerra já não pode ser confinada aos campos de batalha, mas só podemos fazer o Bem como o vemos, e reverentemente comprometer a nossa causa a Deus. Se todos e cada um nós nos mantivermos resolutamente fieis a essa causa, prontos para qualquer serviço ou sacrifício que pode exigir, então, com a ajuda de Deus, venceremos.

Que Ele nos abençoe e proteja.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Fôlego

O que eu gostava de poder escrever frases assim (encham o peito de ar):

A princesa Ghislaine de Polignac, nascida Ghislaine Brinquant em Biarritz a Victor Brinquant e a sua mulher, Simone Durand de Villers, de uma família das Landes, casada em 1939 em Paris com o príncipe Edmond de Polignac, chefe de uma das grandes casas de França, perdidamente apaixonado por aquela rapariga loira e singularíssima de quem viria a divorciar-se sete anos mais tarde indo logo a seguir a tribunal tentar - em vão - impedi-la de usar o título de princesa de Polignac (mudaria apenas de princesse Edmond de Polignac para princesse Ghislaine de Polignac), que morreu em Janeiro na sua casa de França e por cuja alma foi celebrada uma missa em Paris no passado dia 3, foi uma das mulheres que mais animaram colunas de escândalos e intrigas mundanas, de um e do outro lado do Atlântico, nas décadas a seguir ao fim da Segunda Guerra Mundial, falando de outras e dando que falar dela (num pequeno poema satírico com conselhos a estrangeiros que quisessem conquistar Paris escrevera c'est chez Pam qu'on va baiser - Pam era a nora de Churchill que viria a morrer em 1997, viúva de Averrell Harriman depois de longos casos, inter alia com Gianni Agnelli, afogada na piscina do Ritz em Paris, para onde Clinton a nomeara embaixadora dos Estados Unidos) sendo protagonista ou testemunha de histórias escabrosas e divertidas de que ficamos a saber não só por fragmentos de memória de fofocas coevas mas porque muitos amigos e amigas da princesa eram homens e mulheres de letras, deixando um rastro de romances, de livros eruditos (talvez a biografia de Talleyrand mais perceptiva e bem escrita se deva a Duff Cooper, ministro de Churchill, embaixador britânico em Paris a seguir à guerra, femeeiro inveterado e amante de Ghislaine), livros de memórias (a mulher de Duff, Lady Diana Cooper, lembra nas dela o escândalo quando Ghislaine fora posta na rua de casa dos milionários americanos que visitava em Nova Iorque depois de a mulher ter voltado cedo do cabeleireiro e a ter apanhado na cama com o marido, indo dar a notícia aos outros convidados: "Tenho imensa pena dela. É verdade que, entre cem milhões de americanos, foi um disparate ir escolher aquele, mas coitada ter de voltar para Rheims a toque de caixa, com o rabo entre aquelas pernas desgovernadas. Uma humilhação".

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amigos

Por ora e nos próximos dias o Governo português fará tudo para resumir o seu discurso sobre a Líbia ao problema do costume, nestas ocasiões: o repatriamento de portugueses. É o que pode ir dizendo quando já só resta um profundo embaraço. Convém não esquecer: o Governo de Sócrates não se limitou a fazer negócios com o coronel Khadafi (um país, como Portugal, que importa petróleo tem de, necessariamente, se relacionar com ditaduras). O Governo de Sócrates - começando pelo próprio Sócrates - fez muito mais do que isso:alinhou voluntariamente nas manifestações promovidas por Khadafi para se auto-celebrar como ditador. Dito de outra forma: caucionou a natureza ditatorial do regime - que agora, segundo a Human Rigths Watch, já matou mais de 200 pessoas na repressão às manifestações (o que faz de Mubarak um anjinho comparado com o líder líbio). Pior do que a "real politik", só mesmo a "real politik" de vistas curtas.

O que ainda não tinhamos visto

Esta imagem ilustra hoje a capa do Diário de Notícias. Como facilmente se percebe, é sobre os protestos em Marrocos. E não é preciso um olho de lince para perceber que há nesta imagem algo de muito diferente em relação às que vimos, por exemplo, no Egipto: mulheres. No caso, raparigas. Em lugar de destaque, sem medo de serem vistas, protestando da mesma maneira como os homens (no Egipto só as vimos verdadeiramente no dia seguinte à queda de Mubarak, quando o povo decidiu pegar em vassouras e varrer as ruas). Isto quer dizer, simplesmente, que por aquelas bandas (o mundo islâmico), há ditaduras e ditaduras. Marrocos não é o Egipto e nem um nem outro são a Líbia. Uns estão mais perto da democracia do que outros. Marrocos está mais perto do que o Egipto. E está mais perto porque, entre outras razões, aqui as mulheres podem aparecer a protestar e no Egipto não podem. Não me venham falar em democracia enquanto uma parte da população (a feminina) estiver subjugada à outra (a masculina). Pode até haver partidos e eleições e parlamentos e imprensa livre e isso tudo. Mas não é democracia.

Sem embargo

A editoria de Política da Antena 1 fez um blogue - e fez muito bem.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Desorientados?

Sim, parece que sim. Depois de ter insistido, a várias vozes, na ideia de que a moção de censura seria não só contra o PS mas também "contra a direita" (querendo com isto dizer, contra "o bloco PS/PSD"), o BE quase omite referências ao PSD no texto final.

O BE actua obsessivamente, face ao PCP, com "um olho no burro e outro no cigano". Desta vez deixou-se desorientar - e pela mais simples de todas as razões: no dia em que chegar uma moção da direita o PCP votará a favor (como Jerónimo já antecipou). E, nessa altura, o BE estará condenado à absoluta irrelevância aritmética - e portanto política.