segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O verdadeiro "discurso do Rei"



Nesta hora grave, talvez a mais decisiva da História, envio a todas as famílias dos meus povos, tanto aqui como no estrangeiro, esta mensagem, dita com a mesma profundidade de sentimentos para cada um de vocês como se eu fosse capaz de atravessar a soleira da vossa porta e falar convosco pessoalmente.

Pela segunda vez na vida da maioria de nós, estamos em guerra.

Repetidamente tentámos encontrar uma forma pacífica para resolver as diferenças entre nós e aqueles que agora são nossos inimigos, mas foi em vão.

Fomos forçados a um conflito, para o qual somos chamados com nossos aliados, para enfrentar o desafio de um princípio que, se vencesse, seria fatal para qualquer ordem civilizada do mundo.

É um princípio que permite a um Estado, na sua busca egoísta de Poder, ignorar os seus tratados e compromissos solenes, que sanciona o uso da força ou ameaça de força contra a soberania e a independência de outros Estados.

Tal princípio, despojado de todo o disfarce, é seguramente a mera doutrina primitiva de que a Força é o Direito, e se esse princípio fosse estabelecido através do mundo a liberdade do nosso país e de toda a Commonwealht estariam em perigo.

Mas, muito mais do que isso, os povos do mundo seriam mantidas cativos pelo medo e seriam abolidas todas as esperanças de paz e de segurança, de justiça e liberdade, entre as nações.

Esta é a questão principal que nos confronta. Por tudo o que defendemos, e da ordem e da paz mundiais, é impensável que recusemos enfrentar este desafio.

É para este elevado propósito que agora chamo o meu povo em casa e os meus povos através dos mares, que deles farão a sua causa própria.

Peço-lhes para ficarem calmos e firmes e unidos neste momento de provação.

A tarefa será difícil. Pode haver dias negros pela frente, a guerra já não pode ser confinada aos campos de batalha, mas só podemos fazer o Bem como o vemos, e reverentemente comprometer a nossa causa a Deus. Se todos e cada um nós nos mantivermos resolutamente fieis a essa causa, prontos para qualquer serviço ou sacrifício que pode exigir, então, com a ajuda de Deus, venceremos.

Que Ele nos abençoe e proteja.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Fôlego

O que eu gostava de poder escrever frases assim (encham o peito de ar):

A princesa Ghislaine de Polignac, nascida Ghislaine Brinquant em Biarritz a Victor Brinquant e a sua mulher, Simone Durand de Villers, de uma família das Landes, casada em 1939 em Paris com o príncipe Edmond de Polignac, chefe de uma das grandes casas de França, perdidamente apaixonado por aquela rapariga loira e singularíssima de quem viria a divorciar-se sete anos mais tarde indo logo a seguir a tribunal tentar - em vão - impedi-la de usar o título de princesa de Polignac (mudaria apenas de princesse Edmond de Polignac para princesse Ghislaine de Polignac), que morreu em Janeiro na sua casa de França e por cuja alma foi celebrada uma missa em Paris no passado dia 3, foi uma das mulheres que mais animaram colunas de escândalos e intrigas mundanas, de um e do outro lado do Atlântico, nas décadas a seguir ao fim da Segunda Guerra Mundial, falando de outras e dando que falar dela (num pequeno poema satírico com conselhos a estrangeiros que quisessem conquistar Paris escrevera c'est chez Pam qu'on va baiser - Pam era a nora de Churchill que viria a morrer em 1997, viúva de Averrell Harriman depois de longos casos, inter alia com Gianni Agnelli, afogada na piscina do Ritz em Paris, para onde Clinton a nomeara embaixadora dos Estados Unidos) sendo protagonista ou testemunha de histórias escabrosas e divertidas de que ficamos a saber não só por fragmentos de memória de fofocas coevas mas porque muitos amigos e amigas da princesa eram homens e mulheres de letras, deixando um rastro de romances, de livros eruditos (talvez a biografia de Talleyrand mais perceptiva e bem escrita se deva a Duff Cooper, ministro de Churchill, embaixador britânico em Paris a seguir à guerra, femeeiro inveterado e amante de Ghislaine), livros de memórias (a mulher de Duff, Lady Diana Cooper, lembra nas dela o escândalo quando Ghislaine fora posta na rua de casa dos milionários americanos que visitava em Nova Iorque depois de a mulher ter voltado cedo do cabeleireiro e a ter apanhado na cama com o marido, indo dar a notícia aos outros convidados: "Tenho imensa pena dela. É verdade que, entre cem milhões de americanos, foi um disparate ir escolher aquele, mas coitada ter de voltar para Rheims a toque de caixa, com o rabo entre aquelas pernas desgovernadas. Uma humilhação".

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amigos

Por ora e nos próximos dias o Governo português fará tudo para resumir o seu discurso sobre a Líbia ao problema do costume, nestas ocasiões: o repatriamento de portugueses. É o que pode ir dizendo quando já só resta um profundo embaraço. Convém não esquecer: o Governo de Sócrates não se limitou a fazer negócios com o coronel Khadafi (um país, como Portugal, que importa petróleo tem de, necessariamente, se relacionar com ditaduras). O Governo de Sócrates - começando pelo próprio Sócrates - fez muito mais do que isso:alinhou voluntariamente nas manifestações promovidas por Khadafi para se auto-celebrar como ditador. Dito de outra forma: caucionou a natureza ditatorial do regime - que agora, segundo a Human Rigths Watch, já matou mais de 200 pessoas na repressão às manifestações (o que faz de Mubarak um anjinho comparado com o líder líbio). Pior do que a "real politik", só mesmo a "real politik" de vistas curtas.

O que ainda não tinhamos visto

Esta imagem ilustra hoje a capa do Diário de Notícias. Como facilmente se percebe, é sobre os protestos em Marrocos. E não é preciso um olho de lince para perceber que há nesta imagem algo de muito diferente em relação às que vimos, por exemplo, no Egipto: mulheres. No caso, raparigas. Em lugar de destaque, sem medo de serem vistas, protestando da mesma maneira como os homens (no Egipto só as vimos verdadeiramente no dia seguinte à queda de Mubarak, quando o povo decidiu pegar em vassouras e varrer as ruas). Isto quer dizer, simplesmente, que por aquelas bandas (o mundo islâmico), há ditaduras e ditaduras. Marrocos não é o Egipto e nem um nem outro são a Líbia. Uns estão mais perto da democracia do que outros. Marrocos está mais perto do que o Egipto. E está mais perto porque, entre outras razões, aqui as mulheres podem aparecer a protestar e no Egipto não podem. Não me venham falar em democracia enquanto uma parte da população (a feminina) estiver subjugada à outra (a masculina). Pode até haver partidos e eleições e parlamentos e imprensa livre e isso tudo. Mas não é democracia.

Sem embargo

A editoria de Política da Antena 1 fez um blogue - e fez muito bem.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

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Desorientados?

Sim, parece que sim. Depois de ter insistido, a várias vozes, na ideia de que a moção de censura seria não só contra o PS mas também "contra a direita" (querendo com isto dizer, contra "o bloco PS/PSD"), o BE quase omite referências ao PSD no texto final.

O BE actua obsessivamente, face ao PCP, com "um olho no burro e outro no cigano". Desta vez deixou-se desorientar - e pela mais simples de todas as razões: no dia em que chegar uma moção da direita o PCP votará a favor (como Jerónimo já antecipou). E, nessa altura, o BE estará condenado à absoluta irrelevância aritmética - e portanto política.