sábado, 31 de dezembro de 2011

'Num aperto, não se pode contar com ele'

'Depois de um primeiro mandato que se distinguiu pela patriótica ambição de ganhar um segundo, no fim Cavaco lá ganhou. Entretanto, para não perder um voto, evitou prevenir o país do estado em que de facto estava e da catástrofe que lhe preparavam. Continua como sempre foi: um discípulo menor de Marcelo Caetano, com uma vaguíssima inclinação para a social-democracia. Num aperto, não se pode contar com ele.'

VPV na 'opinião' de hoje, no Público. O próprio título, 'Heróis do nosso tempo' (sim, lemos Lérmontov),  neste caso é sombrio (no outro, sempre tínhamos o 'brio romântico); todas estas figuras são cinzentas, vazias e com uma desapaixonada e medíocre ideia de poder.  Não temos mesmo 'por quem substituir as ilusões'.

Bom Ano, e boa sorte.

domingo, 18 de dezembro de 2011

E vai emigrar?

(...) 'reconhecer um erro mais não é do que assumir a condição humana na sua plenitude e ter noção de que, por muito que tentemos, a falibilidade andará sempre de mãos dadas com o acerto', Duarte Gomes, árbitro de futebol.

Leituras de FdS


D&D: 'No es de extrañar que la pérdida de fe en la democracia haya sido mayor en los países que han sufrido las recesiones económicas más graves.' Paul Krugman, aqui.



















Btw, se não leu, não deixe escapar este curioso exercício Fergusoniano que o 'Expresso' levou a sério (publicado na edição de 10 de Dezembro).  Estou disponível para desenvolver o guião do Cenário 4, de Frances Coppola (!).





terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"18 letras que caribam o relato de qualidade" e que...

...no Brasil é naturalmente muito apreciado.

Dando uma no cravo e outra na ferradura dão-se pelo menos duas

Há várias maneiras de olhar para o rompimento da Ruptura/FER com o Bloco de Esquerda. Poderemos sempre dizer – talvez injustamente – que nas tempestades os ratinhos são sempre os primeiro a abandonar o barco. Mas entretanto soube, pela crónica desta manhã do Fernando Alves na TSF, que afinal os ratos são altruístas - sendo que assim estaria a ser injusto para os pobres ratos. Difícil escolha.

Regressemos então ao que nos parece definitavamente consolidado no pensamento nacional – dar uma no cravo e outra na ferradura. A experiência e aproximadamente 27 segundos de reflexão continuada dizem-me que o exagero das qualidades humanas acaba muitas vezes por redundar em defeitos. Dito de outra forma: os defeitos humanos são muitas vezes as qualidades levadas ao exagero.

Da coragem (uma qualidade) à burrice (um defeito) pode ir um passinho de hamster. Pode ser que, rompendo com o BE, a Ruptura/FER não esteja senão afinal a ser corajosa, assumindo que já não tem nada que ver com o partido e indo à sua vida, formando um novo partindo, arriscando ir a votos; mas pode ser também que depois, indo a votos, se confronte não só com o seu presente mas também com aquilo que sempre foi: algo de profundamente irrelevante.

Prognósticos...enfim...já sabem.

Uma homenagem a Salazar


Jaz morto e apodrece o palacete, em Cabanas de Viriato, Viseu, que um dia foi do cônsul Aristides Sousa Mendes, o diplomata que em 1940, em Bordéus, desobedecendo às ordens de Salazar, salvou milhares de pessoas (30 mil, parece) da fúria nazi, concedendo-lhes vistos para fugirem para Portugal. Por motivos vários, começando por desentendimentos familiares, não há maneira de se conseguir recuperar a Casa do Passal, preservando-se para os vivos a memória do diplomata, do que fez, de como viveu e das circunstâncias que o fizeram herói
Casa do Passal
Ora acontece que ali ao lado, a meia dúzia de quilómetros, em Santa Comba Dão, resplandece o casinhoto onde em 1889 nasceu o ditador que condenou Sousa Mendes à miséria – a miséria que nos é recordada todos os dias na imagem da imparável degradação da casa do cônsul. Sob a forma de um "Centro de Estudos do Estado Novo", preserva-se a memória – para análise ou devoção – daquele que não hesitou em punir a desobediência em vez de premiar o humanismo.

Casa onde Salazar nasceu
Deixa-se cair aos bocados a herança daquele que escolheu salvar em vez de condenar. Para além das vidas de Salazar e Sousa Mendes, muito para além, continuamos assim a dar seguimento à vingança do ditador sobre o cônsul, preservando a sua casa de Santa Comba e deixando morrer a do diplomata em Cabanas de Viriato. Morto o ditador, tratamos nós da coisa. Estamos em Portugal. O respeitinho vence o respeito. Este caso, podendo não dizer nada, quer se calhar dizer tudo.  

domingo, 11 de dezembro de 2011

STATEMENT BY THE EURO AREA HEADS OF STATE OR GOVERNMENT



Por estes dias, tenho andado vagamente angustiada à procura de 'apoio' a uma secreta convicção: David Cameron fez o que tinha que ser feito.

Lia os habituais, seguia link's à procura de mais e mais, e nada, a persistente ideia que Cameron entrou naquela do 'estupidamente sós' estava por todo o lado. Encontrei um conforto relativo neste artigo de Timothy Garton Ash, 'David Cameron's 'no' is bad for Britain and for Europe' e pouco mais.

Mas 'statement by the euro' não me convence, e quem diz a mim (irrelevante), diz a tantos outros; e foi, justamente, através de outros que encontrei, finalmente, o que tanto procurava, por estes dias.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A lição de Sócrates (no bom e no mau)

Sistematizando ideias sobre a reentrada de José Sócrates no prime-time noticioso (se é que alguma vez saiu).

1. Vistas as primeiras declarações, na universidade parisiense, e ouvidas as justificações (para gente "de boa-fé"), retenho uma dúvida. No início, Sócrates dizia que era de criança a ideia de pagar dívidas - porque a teoria económica que tinha aprendido falava de gerir dívida e não de a pagar. Depois, na entrevista à RTP, diz que "evidentemente" falava de a pagar "na íntegra e imediatamente" - isso sim, uma ideia de criança. Ora bem, não entendo então a quem respondia Sócrates. Porque não ouvi ninguém, mesmo ninguém em tanta gente, defender a necessidade de país algum pagar total e imediatamente a sua dívida. Portanto, das duas uma: ou há por aí um louco a pregar teses loucas, ou a explicação de Sócrates é mesmo uma correcção ao que disse antes. Se o é, de todo o modo, ainda bem que a faz - porque a primeira versão era tonta (sobretudo politicamente tão inábil que faz aflição).

2. Dito isto, é claro que o período de nojo para Sócrates poder falar sem abrir polémica em Portugal está longe de ter terminado. Haverá o tempo em que o país (no sentido maioritário do termo) o voltará a ouvir. E a valorizar o que ele dirá de verdadeiro e compreensível. Não hoje, não no tema endividamento público.

3. Exemplo perfeito do que quero dizer quando afirmo que o país não está preparado para o regresso é o que Sócrates hoje disse, na RTP, sobre o facto de outros (PSD/CDS) hoje reconhecerem que o problema da dívida é também europeu - e não só nacional. Tem razão sobretudo no caso do PSD, que fingiu durante meses (por razões evidentes) que o problema era Portugal e a má gestão de Sócrates.

4. É claro que nisto, bem prega Frei Tomás. Se o PSD (por estar no Governo) já assume a crise europeia como sistémica, ainda não ouvi Sócrates dizer que levou longe demais a estratégia de endividamento nacional. Ouvi, isso sim, o mesmo Sócrates na dita palestra a dizer num parêntesis que a dívida tem que ser gerida de forma a os mercados acreditarem que ela é pagável. Mas não a admitir que Portugal, sob sua gestão (embora não por sua culpa exclusiva, digo eu) passou esse limite.

5. Dou de trunfo outro ponto a Sócrates: a revisão do Tratado que aí vier pode (tudo bem) transferir soberania orçamental para Bruxelas. Mas então que falam o favor de fazer eleger directamente pelos europeus o Presidente da Comissão, sff. Nisto, se é verdade que a sra Merkel o ouve, que o faça também desta vez.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Vai ou racha


No que toca à reforma do Poder Local espero que o Governo não fique a pensar que está a fazer tudo bem só porque um ministro (Miguel Relvas) foi alvo de uma enorme vaia num congresso de presidentes de junta de freguesia.

Sem ironia digo que isso só pode ser considerado bom sinal. Mas melhor mesmo será que o Governo consiga um dia igual vaia (ou maior ainda) de um qualquer congresso dos milhares de boys que os partidos espalharam por centenas de empresas municipais por esse país fora. Quanto melhor a reforma for mais alto todos os poderes locais berrarão. Nesta matéria sou um verdadeiro António Ribeiro Ferreira: é partir-lhes a espinha!