Sistematizando ideias sobre a reentrada de José Sócrates no prime-time noticioso (se é que alguma vez saiu).
1. Vistas as primeiras declarações, na universidade parisiense, e ouvidas as justificações (para gente "de boa-fé"), retenho uma dúvida. No início, Sócrates dizia que era de criança a ideia de pagar dívidas - porque a teoria económica que tinha aprendido falava de gerir dívida e não de a pagar. Depois, na entrevista à RTP, diz que "evidentemente" falava de a pagar "na íntegra e imediatamente" - isso sim, uma ideia de criança. Ora bem, não entendo então a quem respondia Sócrates. Porque não ouvi ninguém, mesmo ninguém em tanta gente, defender a necessidade de país algum pagar total e imediatamente a sua dívida. Portanto, das duas uma: ou há por aí um louco a pregar teses loucas, ou a explicação de Sócrates é mesmo uma correcção ao que disse antes. Se o é, de todo o modo, ainda bem que a faz - porque a primeira versão era tonta (sobretudo politicamente tão inábil que faz aflição).
2. Dito isto, é claro que o período de nojo para Sócrates poder falar sem abrir polémica em Portugal está longe de ter terminado. Haverá o tempo em que o país (no sentido maioritário do termo) o voltará a ouvir. E a valorizar o que ele dirá de verdadeiro e compreensível. Não hoje, não no tema endividamento público.
3. Exemplo perfeito do que quero dizer quando afirmo que o país não está preparado para o regresso é o que Sócrates hoje disse, na RTP, sobre o facto de outros (PSD/CDS) hoje reconhecerem que o problema da dívida é também europeu - e não só nacional. Tem razão sobretudo no caso do PSD, que fingiu durante meses (por razões evidentes) que o problema era Portugal e a má gestão de Sócrates.
4. É claro que nisto, bem prega Frei Tomás. Se o PSD (por estar no Governo) já assume a crise europeia como sistémica, ainda não ouvi Sócrates dizer que levou longe demais a estratégia de endividamento nacional. Ouvi, isso sim, o mesmo Sócrates na dita palestra a dizer num parêntesis que a dívida tem que ser gerida de forma a os mercados acreditarem que ela é pagável. Mas não a admitir que Portugal, sob sua gestão (embora não por sua culpa exclusiva, digo eu) passou esse limite.
5. Dou de trunfo outro ponto a Sócrates: a revisão do Tratado que aí vier pode (tudo bem) transferir soberania orçamental para Bruxelas. Mas então que falam o favor de fazer eleger directamente pelos europeus o Presidente da Comissão, sff. Nisto, se é verdade que a sra Merkel o ouve, que o faça também desta vez.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
A lição de Sócrates (no bom e no mau)
Publicada por
David Dinis
à(s)
22:21


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