terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Uma homenagem a Salazar


Jaz morto e apodrece o palacete, em Cabanas de Viriato, Viseu, que um dia foi do cônsul Aristides Sousa Mendes, o diplomata que em 1940, em Bordéus, desobedecendo às ordens de Salazar, salvou milhares de pessoas (30 mil, parece) da fúria nazi, concedendo-lhes vistos para fugirem para Portugal. Por motivos vários, começando por desentendimentos familiares, não há maneira de se conseguir recuperar a Casa do Passal, preservando-se para os vivos a memória do diplomata, do que fez, de como viveu e das circunstâncias que o fizeram herói
Casa do Passal
Ora acontece que ali ao lado, a meia dúzia de quilómetros, em Santa Comba Dão, resplandece o casinhoto onde em 1889 nasceu o ditador que condenou Sousa Mendes à miséria – a miséria que nos é recordada todos os dias na imagem da imparável degradação da casa do cônsul. Sob a forma de um "Centro de Estudos do Estado Novo", preserva-se a memória – para análise ou devoção – daquele que não hesitou em punir a desobediência em vez de premiar o humanismo.

Casa onde Salazar nasceu
Deixa-se cair aos bocados a herança daquele que escolheu salvar em vez de condenar. Para além das vidas de Salazar e Sousa Mendes, muito para além, continuamos assim a dar seguimento à vingança do ditador sobre o cônsul, preservando a sua casa de Santa Comba e deixando morrer a do diplomata em Cabanas de Viriato. Morto o ditador, tratamos nós da coisa. Estamos em Portugal. O respeitinho vence o respeito. Este caso, podendo não dizer nada, quer se calhar dizer tudo.  

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