terça-feira, 29 de novembro de 2011

Revisited


'A maldição da humanidade reside no facto de a nossa existência neste mundo não tolerar uma hierarquia fixa e definida, visto que tudo flui e reflui em movimento permanente e que cada um de nós tem de ser percebido e avaliado pelos demais, e que a percepção que têm de nós os menos esclarecidos, os mais limitados e burros é-nos tão importante quanto a dos inteligentes, esclarecidos e subtis. Porque o homem, no fundo do seu ser, depende da imagem impressa na alma de outro homem, mesmo que a alma em questão seja a de um cretino. Por isso, insurjo-me peremptoriamente contra os meus companheiros de ofício, que perante a opinião dos burros, adoptam uma postura aristocrática e proclamam em alto e bom som odi profanum vulgus. Isso não passa de um mero e primário expediente de pacotilha para se furtarem à realidade, uma miserável escapadela para uma postiça altivez! Pelo contrário, quanto mais burra e estreita for essa opinião, mais facilmente nos deixará as orelhas quentes, tal como sentimos mais desconforto num sapato apertado do que num que foi feito à medida.'

(Ferdydurke, Witold Gombrowicz)

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